quarta-feira, 29 de setembro de 2010

' Pra voce que escrevo '


Até eu acho estranho eu ainda escrever pra você, mas escrevo. Não é por nada não, talvez seja só por hábito, ou por um amor eterno, sei lá. Agora tá tudo confuso mesmo. Tanto faz. O silêncio da noite é interrompido pelo barulho das teclas que suavemente bordam na tela deste computador algumas palavras materiais, ordenadas e secas. Ligo o som. Coloco o fone como se a melodia entrasse mais profundamente em meus ouvidos surdos. Sinto sua falta. Mas é uma falta diferente. Não dói. Não machuca. Mas falta. Hoje passei o dia sentada tentando aprender algo de útil para um futuro talvez mais útil que o presente. E, de qualquer forma, às cegas, às tontas, tenho feito o que acredito. Do jeito, talvez torto, que sei fazer. Você, em algum lugar, deve ter recebido meus suspiros, carregados de doçura, e de uma força qualquer. Passei o dia em casa. O trabalho está suspenso por uns dias. Às vezes, a gente precisa priorizar alguma coisa. Você me ensinou isso. Fecho os olhos e o pensamento se vai. Perde-se em meio ao grande vazio da completude. Mas preciso voltar para mais uma vez te escrever algumas linhas certamente inúteis. Eu gosto do que é inútil quando posso utilizar de forma útil. Não escrevo mais com a mesma facilidade que outrora escrevia. Sentimentos expressos apenas pelos pensamentos. Ah, se meus pensamentos pudessem ser transcritos... Não! Talvez melhor seja que eles se percam na imensidão da vida. Ninguém consegue vê-los e a beleza permanece intacta. Queria te dizer tanta coisa! Mas acho que você já sabe. Sabe do meu esforço para recomeçar. Sabe dos meus tropeços a cada passo que dou. Mas sei que você sabe da maior das minhas decisões: continuar. Aprendi que a vida é isto mesmo. Entre quedas e acertos a gente vai trilhando. Colhemos flores nas estradas quando resolvemos observá-las com mais atenção. Graças a Deus, meu querido, isto tenho conseguido com uma determinação impressionante. Sou tua amiga, teu amor, teu orgulho. Hoje sei que posso ter orgulho de mim. A Júlia falou pra mim que ela decidiu o mesmo que eu. A propósito, você conhece a Ju, né? Ela é nossa amiga. Vejo tudo com cores mais fortes, mais vivas. Nada mais consegue me abalar por muito tempo. Ninguém consegue mais me atingir por muito tempo. Sou mais eu. E eu me perco em você às vezes. Tudo melhorou. Estou viva então. O amor é mesmo isso. A tudo supera, a tudo sobrevive. Salva. Liberta. Sorri. As cores gritam. Pego o pincel e pinto a minha realidade com a esperança que há muito não via. Agora sei o que quero. Acredita? E nem é tanto você. Querer você, nós já sabíamos que era fato. Querer. Ter objetivos de vida. Saber onde quero estar. Com quem quero estar. Eu não decido mais por quem grita mais alto. Decido por mim. Minha alegria é saber que todos que me amam esperavam este meu momento. Libertador para eles também. Faz tempo que não escrevo com tanta liberdade. Faz tempo que não faço um diário. Faz tempo que... faz tempo que achava que fazia tempo demais. Não quero mais verbos no passado. Quero verbos no presente. Quero para amanhã e faço hoje. Ainda dói vencer as barreiras do velho hábito de temer. Mas morro de medo e faço! Se for muito, prefiro fazer e depois temer. É mais seguro e não volto atrás. Arrisco, logo existo. Lembra? Lembra sim. Arriscamos. Existimos. Amamos. Vencemos. Agora eu sei. Agora sei que até posso mudar de opinião. Que uns ficam e outros vão. Que não tenho defeitos nem qualidades... mas características. E que se danem as críticas! Posso concordar e até discordar. E o melhor: quem me ama sempre vai ficar! Quem vai, um dia há de me amar. Agora sei que eu sou eu e isso é muito bom! Amor, agora sei que posso sorrir e chorar ao mesmo tempo! Ou de tempos em tempos. Tanto faz. Agora, de alma limpa, tranquila, livre... simplesmente vivo. E eu te amo até assim, estranho. Eu sei que você vive. Distante, em algum lugar aqui pertinho. E a qualquer hora posso gritar. Quem sabe você não vem. Quem sabe eu nem queira mais que você venha no fim. Estranho, eu achei que nunca fosse pensar assim. E até tem um cara novo aí, ele é legal. Bobo, assim que nem você, mas legal. Tá, talvez só você saiba ser assim tão bobo e legal ao mesmo tempo. Mas o que se pode fazer? As pessoas fazem o que podem... E ele tenta me agradar como pode. Tadinho. Mas tem me feito um beeeem! Quase consigo me animar com essa história, mas me animar ou gostar de alguém lembra que estou me deixando enganar. De novo. Eu achei que quando passasse o tempo, eu achei que quando eu finalmente me visse tão livre, tão forte e tão indiferente, eu achei que quando eu sentisse o fim, eu achei que passaria. Não passa, mas quase passa todos os dias. Bem, espero que você torça por mim como eu torço por você. Ou não, porque eu tenho tentado torcer pra você ser feliz, mesmo longe de mim. Embora não pareça, eu tenho medo que você volte a tempo de me recuperar pra você. Tenho medo de sofrer tudo aquilo outra vez. Ou você acha que foi fácil? Porque eu sei, você vai voltar. Mas como nas tantas histórias mal resolvidas por aí, não será a tempo de me ter de volta. Já vi esse filme tantas vezes! Pena, sinto por você. Sinto por nós. Talvez seja mesmo assim que tem que ser. Ou talvez seja essa saudade de tudo que eu não vivi com você que dói mais. Porque sentir saudade de alguém que a gente sabe que não vai mais ver é ruim demais, demais. Sinto isso todo dia. Estranho, é como se você tivesse morrido... Pior é constatar que sim, você morreu. Em algum lugar de mim. Sou contra o certo e o errado. Gosto do subentendido. É, "eu te amo", que significa: "seja feliz da maneira que você escolher, meu sentimento permanecerá o mesmo". E não espere demais, eu não me esforçarei em te dar o que não possuo. O amor me faz pura, mas humana. Só tenho amor, o sentimento mais rico que tenho. Diferente das riquezas que você supõe que eu possuo. O resto é alma. Mesmo ferida. Amor é mesmo isto: a dialética entre a alegria do encontro e a dor da separação. Mas como enobrece! Experimente sentir um dia, se puder.

- Caio Fernando Abreu -
                                         By: Lari *-*

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